É grave, se se vier a confirmar, que houve quem compre votos com dinheiro. Isto vem a propósito da acusação posta a circular de que nas eleições internas da Distrital de Lisboa do PSD alguém teria pago para que votassem em si. É realmente grave, se for verdade. Mas mais grave é ainda, na minha opinião, que, conforme ouvi uma denunciante afirmar na TV, o preço dos tais votos tenha sido de 25 a 30 euros! Nunca pensei que a cotação dos votos estivesse tão baixa. Na minha ingenuidade espanto-me que haja militantes de partidos sérios que aceitem 25 a 30 euros para votar numa determinada candidatura. Os partidos têm pessoas tão miseráveis entre os seus militantes?
Depois parece-me suspeia a afirmação feita pela denunciante de que o dinheiro para pagar os votos estivesse numa caixinha! E a quantia admira-me não só pela sua exiguidade, também pela maior dificuldade em fazer pagamentos em série de 25 ou 30 euros. Se os valores fossem de 20 ou de 50 euros, bastava entregar a cada votante uma nota; 25 euros obriga a passar para a mão do militante uma nota de 20 e uma de 5 e quando se trata de 30 euros são também duas notas de valor diferente: 20 e 10. Para obter um número de votos razoável estes pagamentos são significativamente mais complicados.
Afinal em que ficamos: Se Sócrates ganhar as eleições, terá um governo novo com novos ministros em todas as pastas, como afirmou muito convincente à saída do debate com Manuela Ferreira Leite, ou só nalgumas, como disse hoje, querendo fazer crer que foi mal interpretado?
Eu não dou muita atenção a quem ganha ou perde os debates entre candidatos a lides políticas. Até nem dou muita atenção aos próprios debates. Mas o ganhar ou perder é muito subjectivo, como se pode ver pelas opiniões desencontradas dos comentadores. De resto não penso que saber se um candidato ganhou ou perdeu um debate tenha grande importância para formar opinião para a sua bondade para o cargo a que se candidata. No caso particular do debate entre José Sócrates e Manuela Ferreira Leite, quem ganhou o debate, seja ele quem for, pode não ser o melhor governante ou o que defende o melhor programa. Ganha-se pela habilidade verbal, pelo modo como se lançam armadilhas ao adversário, pelo facto de ter sempre resposta pronta sem se atrapalhar, e não por ser bom governante. Quando Manuela disse que não gostava de comícios, Sócrates acusou-a de ser má política. Nada mais enganoso. Ser bom político não é saber vender melhor as suas ideias, não é saber arrebatar massas com os seus discursos. Ser bom político é saber dirigir bem a coisa pública. E até um mudo pode sabê-lo melhor que um especialista em marquetingue ou um vendedor de banha de cobra.
Já Kipling dizia: "Se sabes encarar com indiferença igual, o triunfo e a derrota, eternos impostores,..."