Não consigo compreender como é possível que um carro, oficial ou não, circule a alta velocidade (há quem fale em 120 km/h) em plena cidade com sinal de emergência, como se fosse uma ambulância para acorrer a feridos ou um carro de bombeiros a caminho de um incêndio, para levar o Sr. Secretário-Geral dos Serviços de Segurança a uma sessão de tomada de posse de governadores civis. Mesmo que o Sr. Secretário-Geral estivesse atrasado para a reunião, não havia razão para corridas pela cidade.
Dito isto, desejo rápidas melhoras ao Sr. Secretário-Geral, mas recomendo que passe a recomendar calma ao seu motorista.
No mesmo dia, no mesmo noticiário, duas notícias lidas com a mesma voz monocórdica e inexpressiva deram hoje (16) conta de que um juiz decretou a falência da Qimonda e que o estado português decidiu que os fundos que tinham sido injectados na Qimonda serão transformados em capital.
É ignorância minha ou estas notícias são contraditórias? É possível aumentar o capital de uma empresa em falência? E se tal é possível, será conveniente? A falência não implica a perda do capital da empresa falida? Então para que se transforma fundos injectados numa tentativa de salvar a empresa em capital? Se o governo considera que os outros credores deverão ter um tratamento previlegiado não pode pura e simplesmente declarar que desiste do reembolso dos fundos injectados?
Seja qual for a explicação, a falência da Qimonda depois de tantas promessas é um golpe grave na confiança dos portugueses em como o Ministério da Economia pode resolver alguma coisa.
O ritmo de redução do défice sempre é de 1,25 pp em média de modo a estarmos com um défice de 3% em 2013, como eu tinha calculado. Agora, das duas uma: ou eu ouvi mal quando me pareceu que disseram que deveria ser de 0,75 pp por ano ou ouvi bem e houve de facto uma informação errada. Mas a outra notícia que afirmava ser de 2% ao ano, tenho a certeza de que ouvi mesmo. De qualquer modo, concluí que a redução "aconselhada" pela UE é de 1,25 pontos percentuais, mas o que hoje disseram foi 1,25%. Seria pedir muito que fizessem a distinção.
Segundo noticiários da TV, a Comissão da UE exige que os países que apresentam défices excessivos os corrijam até 2013. Nesse ano já deverão respeitar o máximo do PEC de 3% para o défice orçamental do estado. O calendário do ajustamento foi estudado caso a caso. Porém as notícias são pouco precisas e contraditórias sobre o ritmo de ajustamento a que Portugal ficará sujeito. Segundo uns, teremos de reduzir o défice em 2% ao ano. Ora como a previsão do défice da UE para este ano é de 8%, é evidente que queriam dizer 2 pontos percentuais por ano e não 2% por ano - uma redução de 2% por ano a partir de 8% levaria 50 anos a atingir o valor de 3%, mas os nossos jornalistas raramente distinguem percentagens de pontos percentuais. Mas vamos fazer o cálculo de uma redução de 2 pp por ano. É fácil ver que em 2012 o défice já seria apenas de 2% e em 2013 seria de 0%. Não parece que a UE venha fazer esta exigência exagerada. Segundo outra notícia, a redução imposta (ou sugerida para negociação?) é de 0,75 pontos percentuais por ano. Aqui a lentidão do ajustamento levaria a que em 2013 o défice ainda fosse de 5% e só em 2016 seria inferior a 3% (2,75%). Afinal em que ficamos? 2%, 2 pp, 0,75 pp ou um qualquer valor intermédio? Pelas minhas contas, o valor exacto para chegar a 3% em 2013 será uma redução anual de 1,25 pontos percentuais. Espero ver nos próximos noticiários a questão mais bem esclarecida.
O governo entregou o seu programa à Assembleia da República para discussão. Na verdade não foi bem assim: Um ministro foi à AR entregar um programa, que foi apresentado como sendo do governo. Mas atendendo que o governo tomou posse à cerca de uma semana, não houve, evidentemente, tempo para cada ministro preparar um texto com o seu programa sectorial e para o conjunto destes programas ser depois discutido e coordenado em reuniões parcelares ou em plenário para sair finalmente o programa final. Segundo as notícias vindas a público só hoje de manhã houve uma reunião do Conselho de Ministros para aprovar o programa. É portanto óbvio que foi o PM ou este em conjunto com o seu núcleo duro que fez o programa e o fez aprovar rapidamente pelos ministros obedientes e obrigados com apenas, se tanto, uma breve troca de ideias ou de esclarecimentos. Aliás o facto de o programa ser praticamente uma cópia do programa eleitoral do PS reforça esta ideia. Tudo leva a crer que, em vez do Programa do Governo, o que a AR vai discutir é o programa de Sócrates. Ou nem isso, porque o tempo que os deputados têm para ler o programa e o período programado para a discussão não dá para nada. Tudo não passa de pura encenação.