O Sr. Javier Urra, psicólogo, pedagogo e terapeuta espanhol, professor de psicologia na Universidade Complutense de Madrid e psicólogo forense no Tribunal Superior de Justiça e no Tribunal de Menores de Madrid, escreveu um livro sobre os segredos dos adolescentes portugueses. Segundo o artigo no i de hoje, para recolher material para o estudo serve de base ao livro, “Durante meses o psicólogo clínico espanhol entrou nas escolas de todo o país. Pediu aos adolescentes e também aos adultos para escreverem numa folha em branco o que escondem uns dos outros. Coleccionou 3400 desabafos anónimos e colocou-os no seu livro “O que Ocultam os Filhos e o que Escondem os Pais”.
É provável que o livro tenha valor em correspondência com a experiência do autor. O extenso artigo do i, assinado por Kátia Catulo, explica com algum pormenor as conclusões do estudo – e portanto do livro -, reproduz conselhos, contém uma curta entrevista com o autor e dá exemplos dos “segredos na família”. Vale a pena reproduzir estes “segredos”:
O que escondem as raparigas
- Namoros
- Relações sexuais, sobretudo na faixa etária entre os 15 e os 18 anos
- Problemas e as conversas com as amigas
- O que fazem com o tempo livre (dos 15 aos 18 anos)
- Faltas às aulas, fumar e beber
O que escondem os rapazes
- Comportamentos errados dentro e fora da escola
- Vida íntima e as relações amorosas
- Masturbação
- O que fazem com os amigos
- As notas e quase tudo o que se passa na escola
- Jogar videojogos fora dos horários determinados pelos pais. Ver os filmes que querem e quando lhes apetece
- Onde vão nos tempos livres e o que fazem durante as saídas. Beber e fumar
O que escondem os pais
- Dificuldades financeiras e problemas em geral para não preocupar os filhos
- Assuntos e experiências que viveram na adolescência
- Problemas conjugais, tema interdito sobretudo para as mães entre os 30 e os 45 anos
- Problemas de saúde e inquietações com o trabalho
Dito assim parece que o livro nada tem de original e que possa causar surpresa.
Mas o que o artigo não explica é como o psicólogo espanhol coligiu o material, se para entrar nas escolas e interrogar os adolescentes teve autorização dos pais, dos conselhos directivos das escolas, do Ministério da Educação, que tipo de abordagem teve para com os jovens que colaboraram. Este ponto parece-me importante, para além das conclusões e do eventual valor científico ou pedagógico do estudo, para explicar se o autor teve a “boa comunicação” que recomenda aos pais.