Hoje o Público corrigiu os erros das notícias de ontem apontados aqui por mim, sobre a valorização orgânica de resíduos e sobre a incidência de HIV em Washington. É muito positivo que o tenha feito. Só é pena que no primeiro caso, em que tinha apresentado um esquema de incineração de resíduos para ilustrar os processos de compostagem e de digestão anaeróbia, não tenha conseguido apresentar hoje o esquema correcto nem explicado qual dos dois processos seria adoptado ou se eram os dois simultaneamente e em que grau.
Mais uma notícia do Público com contradições:
O Público hoje noticia "Lixo de Seixal e Almada será tratado por Central de Valorização Orgânica".
O texto explica correctamente que a valorização orgânica consiste em compostagem "na presença de oxigénio" e digestão anaeróbia na "ausência de oxigénio", fala, no primeiro caso, em "acção de microrganismos" e, no segundo, em "degradação biológica ... levada a cabo ... através da actividade combinada de diferentes microganismos". Diz ainda que será produzido composto, "uma espécie de adubo sólido" e que "o biogás, produzido no processo de digestão anaeróbia" permitirá a produção de energia eléctrica. Até aqui tudo bem e tudo correcto e bem explicado. Apenas não refere que parte dos resíduos a tratar é destinada a compostagem e que parte vai para digestão anaeróbia.
No entanto a figura que ilustra a notícia não condiz com as técnicas descritas. O esquema apresentado é antes o de uma central de incineração, inclusivamente tem "Grelha e Câmara de combustão" e os gases provenientes dessa queima são feitos passar por uma caldeira para aproveitamento do calor que transportam, não se tratando de biogás. A figura indica como fonte Amarsul, mas não corresponde à valorização orgânica objecto da notícia. Não há compostagem, não há qualquer processo biológico, nem há produção de adubo e de biogás, apenas há aproveitamento térmico.
Ao ler o Público de hoje, assustei-me seriamente com a notícia "Relatório revela epidemia de HIV e sida na capital dos Estados Unidos". É que começa logo por afirmar: "Três em cada dez habitantes com mais de 12 anos na cidade de Washington, capital dos Estados Unidos, estão infectados com o vírus HIV ou sofrem de sida, concluiu um estudo epidemiológico do Departamento de Saúde local."
Afinal a leitura do resto da notícia mostra que, embora a situação seja grave, não é tão alarmante como a frase introdutória faz crer: Os infectados são "mais de15 mil" numa população de "580 mil habitantes". São portanto quase 2,6%, e não 30%!!!
Ainda segundo a notícia, "a estimativa ofocial peda por defeito, a população infectada pode ultrapassar os cinco por cento." e considera-se que existe epidemis quando "a taxa de incidência de uma doença é superior a um por cento da população."
Lamentável o erro, que mostra ser necessário cuidado ao ler as notícias, devendo sempre ler-se até ao fim, para evitar o pânico.
Segundo as notícias, o computador Magalhães vem com um programa didático instalado cheio de erros de ortografia e de português, alguns de arrepiar. O escândalo não reside apenas no facto de um computador promovido pelo governo como auxiliar de educação das crianças do 1.º ciclo conter esses erros, quando devia ser irrepreensível. O maior escândalo é que a versão portuguesa desse programa foi escrita por um português residente em frança que faz de tradutor, mas que como habilitação para essa tarefa possui a 4.ª classe. Como tradutor profissional pergunto como é tal possível. Quem o contratou? Houve concurso? O Ministério da Educação não verificou a sua competência? E agora basta pedir às escolas que desistalem esse programa? Não seria prefeível corrigir os erros? E os Magalães que continuam à venda ou a distribuir nas escolas vêm livres desse programa? Ou trazem o programa mas corrigido?
Se já era estranho o computador ser distribuído por empresas privadas, os operadores de telecomunicações móveis, mais estranho é verificar que os conteúdos não foram seleccionados pelo Ministério da Educação ou pelo menos não foram suficientemente revistos por este.
Espero que pelo menos algumas das dúvidas expostas sejam esclarecidas em breve. Ou melhor, não espero, mas desejaria que o fossem sem grandes esperanças.