Vital Moreira veio ontem, no Público, acusar as "esquerdas anti-sistémicas" de serem "tão visceralmente antiliberais e anticapitalistas como sempre foram". Pode ser que tenha razão. Só mostram que são coerentes, ao contrário de certos políticos e comentadores, candidatos a deputados europeus, que já foram antiliberais e anticapitalistas, mas sofreram curiosa metamorfose e agora pretendem ser liberais e capitalistas. Mas o que mais me chamou a atenção foi a defesa da construção das infra-estruturas "novo aeroporto, TGV e rede rodoviária", afirmando que pode e deve ser levada acabo por se tratarem de investimentos essencialmente privados e se pagarem a si mesmos, "ao longo da sua extensa vida útil, mediante as receitas da sua utilização". Parece que Vital Moreira leu atentamente os tais estudos custo-benefício que ninguém ainda viu. Os seus grandes conhecimentos de economia levaram-no a esta conclusão brilhante. Só é pena que os nossos melhores economistas sejam de opinião contrária.
A notícia de uma pobre mulher com muitos filhos (já não me lembro de quantos) que só sobrevive com o agora chamado rendimento social de inserção é impressionante de início. Porém quando se sabe que o rendimento mensal ascende a 1200 euros, passa a ser impressionante por se ficar a saber que esta mulher recebe quase tanto como um engenheiro pensionista que sempre trabalhou no duro, a certa altura da sua vida teve de emigrar para ganhar satisfatoriamente para a família e que se reformou aos 60 anos por invalidez. É isto possível? É. Será justo? Várias dúvidas acodem ao nosso espírito: Será que os miúdos não têm pai? Segundo a notícia, têm, mas cumpre pena de prisão. Como é calculado este RSI? Há acompanhamento para saber das reais necessidades da família? Parece que não, visto haver denúncias dos vizinhos de violência doméstica e de que a mãe receberia em casa homens com quem mantinha relações sexuais na presença dos filhos. Será que o dinheiro do RSI não chegava e a mãe teve de procurar por esta via receitas extra? Os filhos foram agora retirados à mãe e recolhidos numa instituição, excepto o mais novo. A ser exacta, a história é não só estranha mas escandalosa. O RSI, dantes chamado rendimento mínimo, serve para isto?
Como é possível que mesmo durante o noticiário, enquanto os jornalistas dão conta do que se passa no mundo, passe em rodapé um horóscopo em que se dão conselhos aos nativos dos variados signos com base nas cartas de tarot que dizem corresponder-lhes, como acontece na TVI24? A aldrabice da astrologia é alegremente aceite por muita gente crédula ou simplesmente brincalhona e que acha essa crendice inofensiva. Ainda se aceita em revistas frívolas e em programas de entretenimento. Dada a fraca qualidade destes, pouco se perde. Mas no Jornal da TVI? Os responsáveis deveriam ter bom senso.
Muitos economistas levaram anos a clamar que os portugueses viviam acima das suas possibilidades e a explicar esta verdade com variados argumentos: A produtividade é reduzida, a competitividade é baixa, consumimos, em consequência, mais do que o que produzimos, importamos cronicamente muito mais do que exportamos e as entradas de capital (remessas de emigrantes e investimento estrangeiro) não compensam a diferença, necessitamos de pedir muito dinheiro emprestado ao estrangeiro e a dívida acumulada, com o serviço da dívida associado, ameaça tornar-se insuportável, para mais o rating de Portugal degrada-se, o que aumenta o problema.
Pois agora vêm dizer-nos que a quebra do consumo está a contribuir para piorar a crise. Dantes o crescimento virtuoso era baseado nas exportações. Com a diminuição acentuada destas, há pressões para que consumamos mais. É difícil ver a coerência destas posições. Não serão os mesmos economistas? Até o jornalista económico da SIC, José Gomes Ferreira, confessa que teve as duas atitudes, mas não explica como se coadunam. Eu, consumidor consciente, desejaria saber se, para bem da economis nacional, deverei consumir mais ou menos. E não sei.
Seria este o pântano que obrigou Guterres a demitir-se? Será difícil imaginar pântano mais pantanoso que este em que Portugal está actualmente atolado.
Afinal queixei-me antes de tempo. A identidade do cientista que previu o terramoto de Abruzzo e o método utilizado foram divulgados quer na TV quer na imprensa. Foi também explicado que o método, medições da libertação de radão pelo solo, não é unanimemente aceite como válido. Neste caso revelou-se certo. Também li que o cientista foi obrigado a apagar o aviso que iminência de terramoto que tinha publicado no net. Algumas das dúvidas que eu tinha foram assim dissipadas. mas não todas. Não fiquei esclarecido sobre a precisão temporal e espacial da previsão, o que certamente seria importante para saber se poderiam ter sido tomadas medidas para minimizar a catástrofe. Não é possível fazer com que milhares de pessoas abandonem as suas casas em todas as cidades e aldeias de uma vasta região por se prever um terramoto, se não houver uma previsão muito precisa. Mesmo que sejam aconselhadas a fazê-lo, muitos certamente se recusariam. Que outras medidas se poderiam ter tomado?
Segundo várias estações de televisão nacionais e estrangeiras, um cientista teria previsto a ocorrência de um terramoto na Itália central. Hoje, depois do terramoto de Abruzzo, cujo número de vítimas mortais contadas já vai em mais de 100, a Sky News noticia que o dito cientista teria afirmado que as autoridades, ao não ter tido em consideração os seus avisos, deverão ter a pesar-lhe na consciência as mortes ocorridas.
Nenhuma das notícias que ouvi refere como e a quem o referido cientista avisou. Principalmente ninguém refere se houve identificação da zona que se previu seria afectada com suficiente precisão para poder tomar medidas úteis. Nem se o prazo em que o previsto terramoto teria lugar para possibilitar evacuação de populações. Sem estes dados - local e ocasião -, que nem sei se o estado actual da ciência permite estimar, qualquer acção para minimizar os danos e o número de vítimas seria extremamente difícil se não impossível.
Mas aos meios de comunicação não interessam estes pormenores. E assim continuamos sem saber se o cientista, cujo nome e curriculum ignoro nem sei se forqam divulgados, tem alguma razão em acusar as autoridades de responsabilidade.
O semblante carregado que Sócrates apresentou durante a sua curta declaração após o encontro da OTAN é sinal evidente de que tem finalmente consciência de que as coisas não lhe estão a correr de feição. Mas tirando este aspecto geral, estou convencido de que houve uma causa próxima para o desagrado do PM. Terá sido a pressão para envio de militares para o Afeganistão? Terá sido a constatação da sua pequenez no quadro destas reuniões internacionais em que ninguém lhe liga, ao contrário do que sucedeu quando assumiu a presidência da União Europeia? Terá sido pelas dificuldades de comunicação pela insuficiência do seu inglês "técnico"? Terá sido por não ter podido fazer uma distribuição de Magalhães pelos delegados à cimeira? O certo é que não conseguiu ostentar o seu sorriso optimista a que nos habituou nas frequentes sessões de propaganda em que é perito.