Quando se começou a falar em auxílios à indústria automóvel, primeiro nos Estados Unidos e depois noutros países, incluindo cá, pensei logo: Será um precedente que quase de certeza levará outros sectores industriais e até do terciário a reclamar também auxílios.
Verifico com tristeza que não me enganei.
Não tenho conhecimentos de política económica suficientes para ter uma opinião firme sobre se o auxílio prometido em Portugal à indústria automóvel é justificado e se a prazo resolve alguma coisa ou não. Mas hoje fiquei espantado ao tomar conhecimento de duas notícias aparentemente independentes, mas que se relacionam entre si:
Por um lado a promessa do governo de pagar 80% dos salários de 10 000 trabalhadores da indústria automóvel sob o pretexto de os incluir em esquemas de formação. Por outro lado a celebração de um acordo de empresa na Autoeuropa que inclui um aumento de salários de 5,8%. Será que li bem? Será que a Autoeuropa foi incluída no esquema de auxílio do governo? Será que os contribuintes vão pagar a parte respectiva de salários com um aumento de 5,8%? Não ponho em causa que a indústria necessite deste auxílio. Não ponho em causa que os trabalhadores da Autoeuropa mereçam o aumento acordado. Ambas as coisas podem ser verdade ou não. A coincidência é que me deixa espantado. Se a Autoeuropa precisa deste auxílio extraordinário, como se compreende que conceda aumentos desta ordem, por muito merecidos que sejam?